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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

PUTA MONETÁRIA

PUTA MONETÁRIA
 
 
 
Corta-me, asseguro-te...
Dilacera-me, acredites.
São todos assim, vendáveis:
As falas, os discursos, cada palavra é vendável.
O corpo é o mais barato,
O caráter: esse vai a troco pelo escambo desavergonhado.
Uma troca de cus soa mais bela
Do que a troca de elogios mal fadados.
De sorriso miseráveis,
De desejos perniciosos,
De tesões retesados,
Reprimidos...
Engolidos, cuspidos!
Eu sou o que eu sou e não me vendo por pouco.
--- Quanto custa seu corpo?
--- E o teu prazer, quanto devo pagar?
Ignoro todas as putarias mercenárias dos nossos dias.
Brigo pela troca gratuita:
De amor por amor,
De gozo por gozo
E de ser feliz pela felicidade alheia.
 
Sou uma puta do sentimento,
Uma puta das mais baratas.
Pois me dou por um sorriso,
Por um minuto de atenção,
Seja de quem for.
Deixo-me ser puta por um simples afago,
Por um momento de segurança nos braços alheios.
Sou uma rameira por um beijo,
Sou uma meretriz por um peito estufando sua respiração
na minha cabeça declinada sobre ele.
Sou a mais devassa pra sentir pernas roçando as minhas.
Sou puta não monetária,
Sou vadia por gratuidade.
Sou de graça,
Tenho graça em meu ser
Mas não vejo graça nessa troca.
Que banal!
Estou eu assim:
Sem graça, pois me sinto sem ela.
Me cobram uma conduta,
Só respondo uma coisa: sou puta.
Sou puta da noite solitária,
Da família que briga,
Que me chama de canalha.
Que não acredita em mim
Enquanto todos são putas monetárias.
Puta monetárias saiam de suas escaras putrefatas
E deem seus aromas cadavéricos,
Mostrem seus caninos coberto de ouro e prata.
Mas deixem-me ser puta intercambiária!
Intercambio de amor por amor,
Dor pela dor.
 
Minha moeda é outra,
Não se encontra cunhada, nem com cobre
Ou metal qualquer.
Minha alcunha é o sentido da vida, da poesia maldita,
Onde posso ser puta
E não ser banida.
De uma família concupiscente;
Que mostra seus dentes
Cobertos de ouro e prata.
Canalhas!
Escutem o que eu digo:
Canalhas!
 
Chico Carneiro
17/108/2013
13:05 hs...
 

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