FLORES DO MAL
Nada do que tenha dito e falado sobre as
desilusões
e nem sobre as lágrimas dos corações partidos
são capazes de fazer esquecer
o gosto doce que é o amor.
Mesmo com os olhos secos de lágrimas,
Com um coração marcado de cicatrizes,
Com as unhas ruídas pelas aflições,
Com os olhos avermelhados das noites em claro,
Com todos os poemas escritos de dor,
Com todo o choro derramado no banho,
Com toda solidão sentida,
Com todo medo de não amar mais alguém dessa
maneira,
Com todo ódio inversamente proporcional ao
amor dado,
Com todos os gemidos abafados,
Com todas as solitárias caminhadas pela
madrugada enluarada
São capazes de fazer-me esquecer do que é o
amor.
Assim, descobri que mais dói o amor novo ao
bater na porta com suas flores do mal,
Do que a dor antiga do amor passado.
Não é uma dor nova, mas é mais aguda,
É mais latente, é mais feroz,
Causa-me mais medo,
Mas anseio.
Flores maléficas essas dadas a mim com a
verdadeira intenção de me tornar desse jeito:
Poeta,
Obtuso com a vida,
Mas agudo no coração.
Daí resta-me fingir, ser um bom fingidor.
Fingir que somos amigos, que somos próximos,
Que te entendo e estou ao seu lado,
Que somos amigos, e que é essa distância que
permito para meu coração calejado.
Não, não posso e nem devo avançar,
Minhas pernas já não obedecem ao coração,
Pois o corpo ferido, outrora, refuta a dor
que é o amor.
Tento dá um passo a frente, mas lá ficam
presas.
O coração grita: vai! O corpo cansado
responde: fica!
Ai, eu fico parado, inerte, imóvel, quase sem
palavras.
Então não ver que não quero ser apenas amigo?
Digo-te categoricamente que a lembrança das
cicatrizes congela-nos no espaço, no tempo.
Os pés se fixam no chão e como rochas
inamovíveis
Deixam-te ali, sadicamente a contemplar, a admirar
e acima de tudo te deixa com medo.
Assim, passo um cordão entre os lábios e o selo
contra as tolices das palavras,
Pois não anseio pela vergonha das denúncias
da língua apaixonada
Capaz de dizer tudo num mero instante de
desequilíbrio.
Recebo então, o buquê do mal.
As flores adornais do amigo que sempre será
amigo.
Nada mais que isso.
Veja, não quero ser seu amigo!
Prefiro carrega na alma a raiva de você do
que ter que carregar a sua amizade por mim.
Não quero sua camaradagem,
Quero seu corpo, seu coração inflamado, seu
corpo retesado no meu, seu sussurro no ouvido, seu gemido de gozo.
Não quero suas
flores,
Quero seu suor, seu
sal, seu leite, seu mel.
Quero apenas isso.
Um leve balsamo com
as flores que destes e juntos ungirmos as minhas e as tuas feridas,
Transformar as
malditas flores num unguento suave,
Leve,
Confortante,
Embalsamar o coração
morto e esperar no seu túmulo o seu ressuscitar.
Wellington Carneiro.
30/05/2013
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