MORTE
DE CORPO
Assassino-me
todo dia
Todo
momento
Toda
hora
Todo
minuto
E morro
porque é necessário.
Busco
a morte por que nela residem as boas coisas:
A
coisa homem;
A
coisa prazer;
A
coisa comer;
A
coisa gemer.
Coisificando
homens e suas sensações.
Morro
por que é necessário
Suicido-me
num cigarro fumado
No
vinho sovado
No
sexo desenfreado
Porque
é necessário
A
dor é preciso sentir
E
quem não a suporta
E fraqueja
como eu
Escreve!
Por
isso morro
Porque
é necessário
Para
esta força avassaladora
Que
a vida em si carrega
Gemo
os sustenidos da voz aguda da morte
E
murmuro os tons graves da vida.
Morro
por que é necessário
E
vivo por que me permitem
Mato-me
a cada poema
Destinado
a eternidade das minhas palavras
Não
por presunção
Ou
louvação
Mas
porque são palavras
E
essas não morrem como eu.
Por
isso morro
Porque
é necessário
Minhas
palavras vivem
E
ferram na carne
A
marca da mascara da morte.
Porque
é necessário
Eternizo
minha morte como a cor deste poema
E
minha vida como sua alma.
Morro
devagar
Em
cada linha
Em
cada palavra
Em
cada letra
E sinto minha vida esvai-se em cada verso
Em
cada estrofe
E
não tenho como voltar atrás
Pois
o abismo me foi apresentado
E
como se uma pulsão invisível
Levasse-nos
a pular no profundo.
Atiro-me
sem medo de chegar ao fim.
O
propósito do abismo
É se
jogar!
Por
isso morro
Porque
é necessário.
Dedicado para todos os genocídios
cotidianos