PESSOAS
QUE SÃO PESSOAS
Por
que não dizer é mais fácil?
Por
que ser outra pessoa ao invés de mim mesmo é mais cômodo?
Tantos
“ser e não ser” em meio ao turbilhão de possibilidades,
Acontecimentos,
pessoas.
Ah!
As pessoas.
São
as pessoas que mostram uma parte que sempre gosto de observar:
O
quanto elas não querem ser gente!
Não
sou preto,
Não
sou pobre,
Não
sou feio,
Não
sou burro.
Que
desinteressantes são as pessoas que não fingem serem pessoas.
As
pessoas que são pessoas nos apregoam muita verdade
E
as verdades são chatas, incômodas, perturbadoras.
As
verdadeiras pessoas cutucam as nossas costelas com verdades que assombram, e
fazem com que nos afastem delas.
Nós
precisamos da utopia, do devaneio, da mentira.
Ah!
A mentira!
Que
doce é ver as pessoas mentindo acerca das pessoas que elas são,
Ou
melhor, dizem ser...
Sou
muito sincero: dizem alguns.
Falo
tudo o que sinto: quanta babaquice é essa afirmativa.
NINGUEM
FALA TUDO O QUE SENTE!
E
quem se arrisca a dizer tudo o que sente, se arrisca a viver no mais profundo
abismo.
Na
solidão, no isolamento.
Pessoas
sempre fingem ser outras pessoas.
Assim,
você se dá melhor na vida,
No
casamento,
Nas
trepadas, no trabalho, na culinária, nas rodas de conversa,
Nas
religiões e nas mesas de bares.
As
pessoas nunca são pessoas,
Por
isso escrevo, porque ao menos aqui posso ser eu,
Sem
precisar ser compreendido, sem precisar ser outra pessoa,
Além
de mim mesmo.
E
como é chato ser eu mesmo,
Pois
é estranho ser eu mesmo,
É
frio, solitário, deprimente e cinza.
Ser
eu mesmo é um tédio.
Das
poucas vezes que ousei ser eu mesmo fora daqui,
Todos
me rejeitaram, me cuspiram na cara, me amaldiçoaram,
Me
escarneceram, me tiraram o couro pelas costa.
Por
isso de vez por outra, gosto de brincar de fingir
E
rir da cara das pessoas que fingem ser pessoas.
Fico
lá, amontoado com elas nas mesas de bares, nas rodas de amigos,
Dizendo
que sou isso e aquilo.
Enquanto
dou risadas estrondosamente espalhafatosas por dentro,
As
vezes tenho a sensação de que irei explodir de tanto rir silenciosamente.
Rio
das pessoas que conta vantagens monetárias, enquanto suas almas são pobres.
Rio
das pessoas que maquilam suas caras de vadias
E
quando se lava o rosto mostram suas noitadas fudidades e depravadas.
Adoro
ver os meus amigos varonis disfarçando seus paus intumescidos ao ver
Um
rapazote que lhe desperta o mais promiscuo desejo.
Adoro
vê-lo frustrados ao perceber que não são as moçoilas que lhes balançam os
tornozelos.
Adoro
ver a cara deles de desespero ao perceber que não conseguem fingir sempre o que
sentem.
Adoro
ver meus amigos sendo apenas pessoas enquanto rio descaradamente deles.
Daí,
vão-me colocando na difícil tarefa de me esconder pra ver se sou um pouco mais
feliz.
As
pessoas que são pessoas, apenas, são mais felizes.
Pois
delas não se deve esperar mais do que ser elas mesmas.
Quanto
a mim, a cobrança é dobrada.
Se
fugir do que eu disse, nem sou mais eu mesmo e nem uma mera pessoa.
Sou
um estranho dentro de mim mesmo,
Um
estranho que causa medo, pavor.
Sempre
me policio quanto a isso, pois detesto me perceber
E
ver que é a estranheza que me fez ser assim:
Nem
pessoa e nem eu mesmo.
Fiquei
no meio do caminho,
Por
isso incomodo, tomo partido, bulo com todo mundo.
Cutuco
a ferida braba,
Mexo
com o ego,
Mexo
com a lerdeza dessas pessoas.
Ai
como é bom vê o olhar delas ao perceber que estou prestes a abrir a boca
E
despejar um vespeiro cheio de verdades-mentiras!
Eu
sou estranhamente o ferrão soturno
Que
anda solto pelas ruas atrás de pessoas que fingem ser pessoas.
Quanto
a mim mesmo, de verdade,
Ainda
estou na busca de encontrar outro alguém como eu
Que
faça a mesma tarefa comigo.
Chico
Carneiro
01/10/2013
12:55hs