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terça-feira, 1 de outubro de 2013

NUMA MESA DE BAR

NUMA MESA DE BAR
 
 
 
Eu morri pela primeira vez quando o vi.
Morri assim, bem mortinho...
Meus olhos caíram na imensidão que é era o jeito dele.
A face ebriamente encantadora.
Morri de tanto olhar,
Pois não cansava de admirá-lo
Passei anos de fome porque não conseguia comer,
Passei meses de cede porque não conseguia beber,
Congelado.
Olhando fixamente como se estivesse a contemplar a própria face de deus.
Depois, morri pela segunda vez quando ousei toca-lo.
E deixar ser tocado por ele.
Morri porque não aguentei seus abraços elétricos.
Noviço.
Rebelde.
Cai durinho ao chão por não ter dado espaço a mim mesmo.
Não via outros braços senão os dele.
Estava que nem burro com viseira.
Só enxergava o que estava a minha frente: ele.
Na terceira vez, eu mesmo desferi um punhal no peito,
A moda Julieta e Romeu!
Cai na triste e feliz realidade das coisas.
Percebi seu rosto disforme,
Suas pernas tortas,
Seu jeito infantil
E a minha burrice em escolher homens.
Vi a mim mesmo,
Do alto como se estivesse a flutuar sobre a minha vida.
Vi-me lá, estirado ao chão feito um trapo de gente.
Já não era eu.
Eu era a sombra dele, os desejos, as ordens.
Eu me perdi dentro daquela imensidão da primeira morte.
Em mim só restou a casca de um homem velho,
Murcho e sem cor.
Foi quando encontrei a ultima vaga lembrança de mim mesmo:
Me vi na primeira vez que contemplei o rosto dele
Eu sentado na mesa do bar.
Fumando um cigarro.
Acordei do sonho nessa hora:
Daí eu decidi ressuscitar.
Levantai na terceira batida do tambor.
Baixei no terreiro e dancei como um bandoleiro.
Aprendi a amar como um malandro.
E a ergue a taça friamente e calcular o tamanho da dor de amá-lo.
Despertei do devaneio e voltei a encher a taça
E a beber loucamente.
No outro dia me restou apenas a ressaca:
Uma dor de cabeça forte,
Golfos de vômito
E uma repulsa invejável de amar daquele jeito!
Chico Carneio
01/10/2013
18:15 hs

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