RASO
Raso como copo d’água
Encontro alguns sentimentos perdidos
Boiando na margem do vidro
A ponto de pular...
Então mergulho os dedos dentro do copo,
Espero a água transbordar...
Umedeço minha fronte, misturam-se as minhas lágrimas
E desce até minha boca.
Sinto o gosto salgado e fresco de cada uma,
Carregada com puro sentimento,
Com a mais puríssima dor.
Miro num instante, num momento de devaneio
Cenas irrealizadas, só idealizadas...
Passo horas a escorregar as mãos e o pensamento pelas
cenas,
Sinto cada lugar imaginado, cada hora gasta, as partes do
corpo molhada.
Percebo então que é só corpo, carne pútrida e fétida,
Vazia e incrivelmente RASA.
Lhes falta os bons pensamentos, as boas conversas, as
boas brincadeiras,
As boas trepadas e lambidas. Além-mar, falta-lhes
sobretudo recheio.
Está oco...
Pau duro, corpo quente, mas a alma friamente oca.
Só isso, o oco do mundo está ali. Parado, inerte e
imutável.
Raso, raso, rasinho...
Proponho-te então,
Mergulhe em mim,
E faça um nado profundo dentro das minhas vísceras e
encontre-se
Sou todo ouvido, carne e gozo.
Chico Carneiro
29/06/2013
19:25 hs
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